Nao tenho tido tempo ou paciencia pra escrever, mas nao tenho estado parado, de forma alguma...
Primeiro, continuo na busca de um paralelo brasileiro pra Else, cheguei a conclusao de que fortalece o projeto como estrtura conceitual, e me tira do risco de estar preso demais a um universo. Além disso, confirmei minha apresentacao (ensaio aberto) no Theaterhaus Mitte em 01 de setembro, e com isso defini essa data como a conclusao do que estou chamando agora de segunda etapa da trabalho: a aproximacao das energias femininas com o texto de Schnitzller. Depois de muito tempo entendi que, mais do que codificar energias totalmente novas, o que fiz foi moldar coisas que já tinha ou conhecia dentro dos parametros do texto, procurando dar um formato a coisas que já tinha experimentado mas estavam perdidas em mim...
Com isso, surge a necessidade mais urgente de encontrar uma forma. Defini um novo roteiro, mais sintético e conciso, eliminei algumas arestas que me pareciam excessivas, me concentrei nas energias mais intensas/significativas:
Donzela/eva, desilusao, garbage, lua/toureiro, libertina, desespero, viuva
tenho também experimentado codificar algumas sequencias, especialmente com a libertina, retomando coisas marcadas com a viúva, enfim, comecando a deixar uma forma mais definitiva. Gostaria dessa vez, se possível, de improvisar menos e ter um produto mais definido com o que quero apresentar, nao me perder na necessidade de ser criativo. Tenho tentado ainda encontrar textos que dialoguem com essa estrutura, dentro da Else, e por enquanto acrescentei também um texto da Clarice Lispector, que pretendo usar depois, mas tenho dúvida se isso nao tira o foco dessa segunda apresentacao...
Tem sido dificil codificar, mas nao pouco interessante. Preciso sempre me manter calmo e saber que tudo, quando definido, perde um pouco da forca e da fluencia, e que só a clareza da forma e sua repeticao e que pode trazer essa inteireza de volta, e de uma forma mais precisa.
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Semanas de ensaio e crise
Bastante tempo sem escrever...
Na verdade, estou em um período indefinido do trabalho, em que os rumos nao parecem tao claros, e ao mesmo tempo sinto que é um momento de tomar decisoes, de fechar, de concretizar, mas que eu de alguma forma nao estou conseguindo dar esse passo. É difícil tomar decisoes polêmicas quando você é diretor e ator, porque você tem sempre a impressao de que os impulsos que segue sao contraditórios. Acho que é isso que eu tenho sentido agora. Contraditório. E isso nao tem ajudado o trabalho em sala de ensaio. Quando trabalho com cenas separadas, sinto que a intensidade do trabalho e a investigacao de detalhes estimulam meu lado performer e treabalho bem, quando tento concretizar o todo, minha insatisfacao de diretor toma conta e eu nao consigo encontrar a mesma densidade. Sinto que é hora de buscar a forma, mas nao sei se a forma significa a forma que eu ja tenho ou a busca de uma nova forma, uma definicao clara de um rumo, de um objeto concreto de trabalho. Tenho medo de fazer o básico "espetaculo de ator", cheio de momentos intensos, e com uma dramaturgia e uma encenacao capengas. Nao é isso que eu quero. Eu estou buscando um equilibrio entre encenacao e interpretacao, mas ao mesmo há uma década de insatisfacao como performer que me carrega tendencialmente a dar preferencia pra esse lado da minha personalidade. Por isso esse momento é tao dificil, porque é o momento em que o diretor tem que falar mais forte e organizar tudo, dizer "isso nao é bom o bastante", "isso é bom mas nao serve", "isso combina melhor com isso", etc., independente das vontades do ator. Sinto que talvez fosse hora de trabalkhar mais fora da sala de trabalho e menos em sala. As vezes sinto que entro na sala sem saber exatamente o que buscar, repito coisas que já fiz, me aprofundo em coisas que nao sei se vou usar...
Pensei em encontrar uma escritora brasileira pra tracar um paralelo com a Else... Nao sei, pode ser que seja bom, pode ser que seja fuga... Mas me daria novamente um foco concreto para o trabalho.
Na verdade, estou em um período indefinido do trabalho, em que os rumos nao parecem tao claros, e ao mesmo tempo sinto que é um momento de tomar decisoes, de fechar, de concretizar, mas que eu de alguma forma nao estou conseguindo dar esse passo. É difícil tomar decisoes polêmicas quando você é diretor e ator, porque você tem sempre a impressao de que os impulsos que segue sao contraditórios. Acho que é isso que eu tenho sentido agora. Contraditório. E isso nao tem ajudado o trabalho em sala de ensaio. Quando trabalho com cenas separadas, sinto que a intensidade do trabalho e a investigacao de detalhes estimulam meu lado performer e treabalho bem, quando tento concretizar o todo, minha insatisfacao de diretor toma conta e eu nao consigo encontrar a mesma densidade. Sinto que é hora de buscar a forma, mas nao sei se a forma significa a forma que eu ja tenho ou a busca de uma nova forma, uma definicao clara de um rumo, de um objeto concreto de trabalho. Tenho medo de fazer o básico "espetaculo de ator", cheio de momentos intensos, e com uma dramaturgia e uma encenacao capengas. Nao é isso que eu quero. Eu estou buscando um equilibrio entre encenacao e interpretacao, mas ao mesmo há uma década de insatisfacao como performer que me carrega tendencialmente a dar preferencia pra esse lado da minha personalidade. Por isso esse momento é tao dificil, porque é o momento em que o diretor tem que falar mais forte e organizar tudo, dizer "isso nao é bom o bastante", "isso é bom mas nao serve", "isso combina melhor com isso", etc., independente das vontades do ator. Sinto que talvez fosse hora de trabalkhar mais fora da sala de trabalho e menos em sala. As vezes sinto que entro na sala sem saber exatamente o que buscar, repito coisas que já fiz, me aprofundo em coisas que nao sei se vou usar...
Pensei em encontrar uma escritora brasileira pra tracar um paralelo com a Else... Nao sei, pode ser que seja bom, pode ser que seja fuga... Mas me daria novamente um foco concreto para o trabalho.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Ensaios 01 e 04 de julho
A primeira semana de ensaios depois de Halle...
Confesso que eu estava mais preocupado do que excitado. As duas semanas com a Dani foram extremamente produtivas e interessantes, depois de muito tempo eu trabalhei com parceiros de trabalho em um projeto no qual acreditava, em um tipo de jogo no qual eu me sentia a vontade, criei relacoes interessantes, reativei esse meu lado como performer que estava há muito tempo adormecido. Mas... Como seria voltar? A estar sozinho? A nao ter regras nem comando?
Nos dois dias a sensacao foi muito parecida. Um comeco dificil (na terca mais forte, na sexta já um pouco atenuado), em que eu prolongava indefinidamente o alongamento e parecia que nada de útil ia surgir. De repente, eu entrava no trabalho criativo e meu corpo explodia. Rapidamente, sem necessidade de muito aquecimento ou pensamento, simplesmente porque as coisas já estao lá, claro que elas precisam ser provocadas, claro que há muito material bruto ou inadequado, mas foi muito bom perceber a facilidade com que me envolvo e mesmo com que consigo encontrar as energias e deixar que elas se transformem, jogar com elas.
Na terca trabalhei mais com momentos isolados, tentei um pouco retomar as sensacoes da improvisacao com o tecido, experimentei a cena do Garbage, retomei as imagens do Klimt. Na sexta, tentei trabalhar com sequencias mais longas que incluíssem esses momentos. O Garbage me parece funcionar de forma simples. Encontrei uma energia intensa, ainda estou escorregando um pouco em como transmití-la em movimento sem tornar ela igual a uma das outras. Com o tecido se definem dois momentos bem fortes. Um de brincadeira com a leveza e com a ideia de voar, que ao meu entender pode ser combinado com a energia da donzela (hoje eu experimentei e funcionou bem, inclusive ajudando essa passagem delicada da libertina para a donzela). O segundo momento, no chao e a imagem da freira, ainda sao um pouco mais complicados pra mim. Eles poderiam existir de forma independente, mas nao sei se sao interessantes o suficiente, por isso ontem resolvi experimentar a freira combinada com a viuva, e cheguei à conclusao de que poderia funcionar, devo provavelmente trabalhar mais profundamente sobre essa ideia na semana que vem.
Fica ainda a grande dúvida, quanto mais eu avanco no processo de formatacao: como eu devo proceder? Devo aceitar minha tendencia a criar encenacoes mirabolantes ou aceitar os problemas que eu tenho e tentar incorporá-los em uma encenacao simplificada?
Confesso que eu estava mais preocupado do que excitado. As duas semanas com a Dani foram extremamente produtivas e interessantes, depois de muito tempo eu trabalhei com parceiros de trabalho em um projeto no qual acreditava, em um tipo de jogo no qual eu me sentia a vontade, criei relacoes interessantes, reativei esse meu lado como performer que estava há muito tempo adormecido. Mas... Como seria voltar? A estar sozinho? A nao ter regras nem comando?
Nos dois dias a sensacao foi muito parecida. Um comeco dificil (na terca mais forte, na sexta já um pouco atenuado), em que eu prolongava indefinidamente o alongamento e parecia que nada de útil ia surgir. De repente, eu entrava no trabalho criativo e meu corpo explodia. Rapidamente, sem necessidade de muito aquecimento ou pensamento, simplesmente porque as coisas já estao lá, claro que elas precisam ser provocadas, claro que há muito material bruto ou inadequado, mas foi muito bom perceber a facilidade com que me envolvo e mesmo com que consigo encontrar as energias e deixar que elas se transformem, jogar com elas.
Na terca trabalhei mais com momentos isolados, tentei um pouco retomar as sensacoes da improvisacao com o tecido, experimentei a cena do Garbage, retomei as imagens do Klimt. Na sexta, tentei trabalhar com sequencias mais longas que incluíssem esses momentos. O Garbage me parece funcionar de forma simples. Encontrei uma energia intensa, ainda estou escorregando um pouco em como transmití-la em movimento sem tornar ela igual a uma das outras. Com o tecido se definem dois momentos bem fortes. Um de brincadeira com a leveza e com a ideia de voar, que ao meu entender pode ser combinado com a energia da donzela (hoje eu experimentei e funcionou bem, inclusive ajudando essa passagem delicada da libertina para a donzela). O segundo momento, no chao e a imagem da freira, ainda sao um pouco mais complicados pra mim. Eles poderiam existir de forma independente, mas nao sei se sao interessantes o suficiente, por isso ontem resolvi experimentar a freira combinada com a viuva, e cheguei à conclusao de que poderia funcionar, devo provavelmente trabalhar mais profundamente sobre essa ideia na semana que vem.
Fica ainda a grande dúvida, quanto mais eu avanco no processo de formatacao: como eu devo proceder? Devo aceitar minha tendencia a criar encenacoes mirabolantes ou aceitar os problemas que eu tenho e tentar incorporá-los em uma encenacao simplificada?
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Ensaios 03 e 06 de junho
Voltando a me encontrar
lentamente e respeitando os limites,
mas sem perder de vista as coisas que já foram conquistadas.
Estabelecer um roteiro foi importante como exercício nas últimas semanas, sinto que cada coisa tem uma qualidade individual inegavel, mas que ainda falta algo ao conjunto. Talvez faltem surpresas, tudo seja muito bem organizado e lógico. Talvez faltem pontos de apoio, referencias claras, momentos teatrais. Talvez faltem textos. Sinto que o roteiro, com todas suas qualidades, ainda é mais esburacado que o trabalho em geral... Sinto que estive muito preso a determinado tipo de dinamica de improvisacao, e que o resultado é que a maior parte das energias se constitui nessa dinâmica (uma danca mais livre, mais abstrata, construida em torno da relacao direta com o público supostamente presente). Preciso encontrar alternativas? Ou essa constancia se apresenta como uma coerencia inerente ao trabalho?
O medo de que as energias se confundissem se foi. Colocar a Lua e a Libertina lado a lado, bem como o Desespero e a Viúva possibilitou que eu tornasse mais clara a individualidade destas, e também que tomasse algumas decisoes nesse sentido. A Lua por exemplo, esta cada vez mais centrada na ideia da frieza do ataque, a seducao está quase completamente deixada de lado, ou transformada para a Libertina/Concubina. A Viúva voltou a ser um pouco mais leve, como uma fuga no passado depois do desespero no presente, sem que perdesse seu tônus ou seu envolvimento...
Macas. Muitas macas presas no teto e no chao...
Velas? Qual o risco prático de usar velas?
De que outra forma posso criar uma iluminacao nao teatral?
Como lidar com o problema da insercao das músicas?
Quais sao as músicas e quais sao os momentos?
Iniciar como a criada, de forma mais leve, ou como a lua, com um tensionamento já de princípio?
Eu quero usar texto? Qual? Quanto?
questoes que tem surgido, quanto mais o trabalho se encaminha no sentido de uma configuracao...
lentamente e respeitando os limites,
mas sem perder de vista as coisas que já foram conquistadas.
Estabelecer um roteiro foi importante como exercício nas últimas semanas, sinto que cada coisa tem uma qualidade individual inegavel, mas que ainda falta algo ao conjunto. Talvez faltem surpresas, tudo seja muito bem organizado e lógico. Talvez faltem pontos de apoio, referencias claras, momentos teatrais. Talvez faltem textos. Sinto que o roteiro, com todas suas qualidades, ainda é mais esburacado que o trabalho em geral... Sinto que estive muito preso a determinado tipo de dinamica de improvisacao, e que o resultado é que a maior parte das energias se constitui nessa dinâmica (uma danca mais livre, mais abstrata, construida em torno da relacao direta com o público supostamente presente). Preciso encontrar alternativas? Ou essa constancia se apresenta como uma coerencia inerente ao trabalho?
O medo de que as energias se confundissem se foi. Colocar a Lua e a Libertina lado a lado, bem como o Desespero e a Viúva possibilitou que eu tornasse mais clara a individualidade destas, e também que tomasse algumas decisoes nesse sentido. A Lua por exemplo, esta cada vez mais centrada na ideia da frieza do ataque, a seducao está quase completamente deixada de lado, ou transformada para a Libertina/Concubina. A Viúva voltou a ser um pouco mais leve, como uma fuga no passado depois do desespero no presente, sem que perdesse seu tônus ou seu envolvimento...
Macas. Muitas macas presas no teto e no chao...
Velas? Qual o risco prático de usar velas?
De que outra forma posso criar uma iluminacao nao teatral?
Como lidar com o problema da insercao das músicas?
Quais sao as músicas e quais sao os momentos?
Iniciar como a criada, de forma mais leve, ou como a lua, com um tensionamento já de princípio?
Eu quero usar texto? Qual? Quanto?
questoes que tem surgido, quanto mais o trabalho se encaminha no sentido de uma configuracao...
quinta-feira, 29 de maio de 2008
domingo, 25 de maio de 2008
Algum tempo parado e outras observacoes
Fazia tempo que nao escrevia...
Na verdade, nas ultimas semanas o foco dos meus ensaios mudou bastante, e por isso eu nao me senti motivado para escrever...Com a noticia da convocacao pra prova de mestrado da Ernst Busch acabei usando uma parte considerável do meu tempo para preparar e aperfeicoar minha coreografia, um trabalho que dialogava diretamente com o que eu vinha fazendo até entao, mas me propunha uma nova e inusitada dificuldade: como elaborar algo curto, com um discurso próprio, em que pudesse mostrar diferentes qualidades de trabalho e no qual o desenho do movimento no espaco estivesse absolutamente claro e definido. A grande dificuldade de codificar e nao perder a intensidade das energias, em conseguir conciliar definicao estética com qualidade de interpretacao...
Três semanas depois, me vejo disposto a analisar o resultado. Ontem fiz a apresentacao para a banca, e acho hoje um bom dia pra escrever, antes que eu tenha a resposta oficial deles, que poderia influenciar minhas opinioes a partir do fato de eu ter ou nao passado (e que no final das contas é muito pouco importante para essa avaliacao em si.) A primeira coisa que me chama a atencao: eu consegui!!!!!!!!! Nao sem dor, mas ao final eu tinha uma partitura clara e definida, um discurso dramaturgico lógico e mesmo assim as corporeidades continuavam lá, presentes, ainda que mais instaveis do que antes, mas me parece claramente ser uma questao de repeticao e definicao. Nesse momento me parece claro que quanto mais um me dedicar à clareza dessa partitura, mas ela tendencialmente vai se descolar da minha necessidade de pensar enquanto executo e eu vou poder voltar o foco da minha atencao à clareza e inteireza das energias... Me parece ser um elemento fundamental para isso a fluência com a qual essas partituras foram criadas, nao fruto direto de uma decisao externa de movimentacao, mas de um lento desenvolvimento em improvisacao e repeticao, até que pequenos núcleos fossem formados e definidos... Também o fato da partitura completa estar codificada parece, por incrível que pareca, me ajudar. Ao contrário do que poderia supor, isso gera muitas vezes uma fluência que permite ao próprio corpo conduzir o movimento sem que eu tenha que tomar racionalmente as atitudes, permitindo que eu me concentre nas qualidades energéticas.
De resto, tenho tentado de alguma forma me manter conectado às coisas que vinha fazendo antes, ainda que em curtas improvisacoes em sala de ensaio, no pouco tempo em que tenho pra me dedicar a isso. Basicamente, trabalhei novamente em funcao de um roteiro comum, que pudesse dar conta de abranger tudo o que tinha feito até entao, com resultados animadores... Vejo porém um problema entre a energia da lua e a libertina, as vezes as duas energias se confundem de forma preocupante. Para evitar isso, voltei a trabalhar brevemente a lua com o bastao, e acho que pode ser um elemento interessante de quebra, já que é um elemento tao masculino dentro de um universo tao feminino... E isso me permitiria encontrar uma outra qualidade de movimento pra lua, que tem que ser mais dura e reta do que a libertina, que também possui a forca, mas é uma forca baseada na seducao, nao na violencia... Por fim, há ainda o trabalho com as imagens do Klimt, que tem me rendido frutos interessantes, especialmente nos últimos tempos com a projecao das imagens combinadas em algumas das energias (por exemplo, a eva e o beijo na donzela/romantica).
Na verdade, nas ultimas semanas o foco dos meus ensaios mudou bastante, e por isso eu nao me senti motivado para escrever...Com a noticia da convocacao pra prova de mestrado da Ernst Busch acabei usando uma parte considerável do meu tempo para preparar e aperfeicoar minha coreografia, um trabalho que dialogava diretamente com o que eu vinha fazendo até entao, mas me propunha uma nova e inusitada dificuldade: como elaborar algo curto, com um discurso próprio, em que pudesse mostrar diferentes qualidades de trabalho e no qual o desenho do movimento no espaco estivesse absolutamente claro e definido. A grande dificuldade de codificar e nao perder a intensidade das energias, em conseguir conciliar definicao estética com qualidade de interpretacao...
Três semanas depois, me vejo disposto a analisar o resultado. Ontem fiz a apresentacao para a banca, e acho hoje um bom dia pra escrever, antes que eu tenha a resposta oficial deles, que poderia influenciar minhas opinioes a partir do fato de eu ter ou nao passado (e que no final das contas é muito pouco importante para essa avaliacao em si.) A primeira coisa que me chama a atencao: eu consegui!!!!!!!!! Nao sem dor, mas ao final eu tinha uma partitura clara e definida, um discurso dramaturgico lógico e mesmo assim as corporeidades continuavam lá, presentes, ainda que mais instaveis do que antes, mas me parece claramente ser uma questao de repeticao e definicao. Nesse momento me parece claro que quanto mais um me dedicar à clareza dessa partitura, mas ela tendencialmente vai se descolar da minha necessidade de pensar enquanto executo e eu vou poder voltar o foco da minha atencao à clareza e inteireza das energias... Me parece ser um elemento fundamental para isso a fluência com a qual essas partituras foram criadas, nao fruto direto de uma decisao externa de movimentacao, mas de um lento desenvolvimento em improvisacao e repeticao, até que pequenos núcleos fossem formados e definidos... Também o fato da partitura completa estar codificada parece, por incrível que pareca, me ajudar. Ao contrário do que poderia supor, isso gera muitas vezes uma fluência que permite ao próprio corpo conduzir o movimento sem que eu tenha que tomar racionalmente as atitudes, permitindo que eu me concentre nas qualidades energéticas.
De resto, tenho tentado de alguma forma me manter conectado às coisas que vinha fazendo antes, ainda que em curtas improvisacoes em sala de ensaio, no pouco tempo em que tenho pra me dedicar a isso. Basicamente, trabalhei novamente em funcao de um roteiro comum, que pudesse dar conta de abranger tudo o que tinha feito até entao, com resultados animadores... Vejo porém um problema entre a energia da lua e a libertina, as vezes as duas energias se confundem de forma preocupante. Para evitar isso, voltei a trabalhar brevemente a lua com o bastao, e acho que pode ser um elemento interessante de quebra, já que é um elemento tao masculino dentro de um universo tao feminino... E isso me permitiria encontrar uma outra qualidade de movimento pra lua, que tem que ser mais dura e reta do que a libertina, que também possui a forca, mas é uma forca baseada na seducao, nao na violencia... Por fim, há ainda o trabalho com as imagens do Klimt, que tem me rendido frutos interessantes, especialmente nos últimos tempos com a projecao das imagens combinadas em algumas das energias (por exemplo, a eva e o beijo na donzela/romantica).
terça-feira, 29 de abril de 2008
Ensaio 29 de abril
Ainda preso nas mesmas questoes, a diferenca é que as respostas comecam a aparecer, e com isso minha vontade, meu impulso de entrar em sala de ensaio comeca a se fortalecer novamente. Tem sido muito instigante o trabalho das últimas semanas, e o melhor é que sinto que ele realmente comeca a dar algum resultado...
O trabalho com as imagens do Klimt passou para um segundo estágio. A mímesis está concluída, ou quae, agora a etapa é deixar essas figuras cada vez mais concretas no corpo, permitindo que eu trafegue mais naturalmente entre elas, que elas surjam mais naturalmente ao longo da improvisacao. A essa altura também está claro que as imagens por si só já sao um elemento profundo de investigacao da feminilidade, que a mera improvisacao inspirada nessas figuras traz naturalmente uma qualidade feminina ao corpo, especialmente nos momentos em que eu já consigo ultrapassar a superfície plástica (reproduzir a figura da forma mais perfeita) e encotro uma essência de cada figura... Também é digno de nota um novo caminho que aconteceu hoje. Naturalmente, durante a improvisacao com a donzela, me surgiu aquele estado de leve incapacidade, como se eu nao soubesse o que fazer, e instantaneamente veio o impulso de experimentar uma das figuras (o beijo, se nao me engano), isso deu uma nova dinâmica, o que me faz acreditar que é possível ter, além de uma partitura influenciada pelas imagens do klimt, algumas imagens que sao recorrentes a cada uma das energias (e nao foi com esse objetivo que eu comecei a utilizá-lo, afinal de contas?)
Esta cada vez mais claro, também, a ligacao entre os dois roteiros que tenho. Hoje fiz uma retomada mais precisa do roteiro antigo, com direito a tempo pra relembrar as acoes da lua, o texto da chapeuzinho, a viuva, etc., e o resultado foi bem interessante. Algumas coisas parecem ter amadurecido com esse tempo de reclusao, nao ficou nada a dever em qualidade a outras vezes que o experimentei. Depois fui dar uma passada no roteiro novo, e me ocorreu que ele a principio comeca exatamente aonde o outro termina (há uma clara relacao entre a donzela e a adolescente), o que me leva à possibilidade de tentar anexar um roteiro ao outro e ver o que acontece... Só pra brincar, claro...
Novas possibilidades que aparecem, isso é importante: é o que faz com que o trabalho continue andando...
O trabalho com as imagens do Klimt passou para um segundo estágio. A mímesis está concluída, ou quae, agora a etapa é deixar essas figuras cada vez mais concretas no corpo, permitindo que eu trafegue mais naturalmente entre elas, que elas surjam mais naturalmente ao longo da improvisacao. A essa altura também está claro que as imagens por si só já sao um elemento profundo de investigacao da feminilidade, que a mera improvisacao inspirada nessas figuras traz naturalmente uma qualidade feminina ao corpo, especialmente nos momentos em que eu já consigo ultrapassar a superfície plástica (reproduzir a figura da forma mais perfeita) e encotro uma essência de cada figura... Também é digno de nota um novo caminho que aconteceu hoje. Naturalmente, durante a improvisacao com a donzela, me surgiu aquele estado de leve incapacidade, como se eu nao soubesse o que fazer, e instantaneamente veio o impulso de experimentar uma das figuras (o beijo, se nao me engano), isso deu uma nova dinâmica, o que me faz acreditar que é possível ter, além de uma partitura influenciada pelas imagens do klimt, algumas imagens que sao recorrentes a cada uma das energias (e nao foi com esse objetivo que eu comecei a utilizá-lo, afinal de contas?)
Esta cada vez mais claro, também, a ligacao entre os dois roteiros que tenho. Hoje fiz uma retomada mais precisa do roteiro antigo, com direito a tempo pra relembrar as acoes da lua, o texto da chapeuzinho, a viuva, etc., e o resultado foi bem interessante. Algumas coisas parecem ter amadurecido com esse tempo de reclusao, nao ficou nada a dever em qualidade a outras vezes que o experimentei. Depois fui dar uma passada no roteiro novo, e me ocorreu que ele a principio comeca exatamente aonde o outro termina (há uma clara relacao entre a donzela e a adolescente), o que me leva à possibilidade de tentar anexar um roteiro ao outro e ver o que acontece... Só pra brincar, claro...
Novas possibilidades que aparecem, isso é importante: é o que faz com que o trabalho continue andando...
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