quinta-feira, 29 de maio de 2008

domingo, 25 de maio de 2008

Algum tempo parado e outras observacoes

Fazia tempo que nao escrevia...
Na verdade, nas ultimas semanas o foco dos meus ensaios mudou bastante, e por isso eu nao me senti motivado para escrever...Com a noticia da convocacao pra prova de mestrado da Ernst Busch acabei usando uma parte considerável do meu tempo para preparar e aperfeicoar minha coreografia, um trabalho que dialogava diretamente com o que eu vinha fazendo até entao, mas me propunha uma nova e inusitada dificuldade: como elaborar algo curto, com um discurso próprio, em que pudesse mostrar diferentes qualidades de trabalho e no qual o desenho do movimento no espaco estivesse absolutamente claro e definido. A grande dificuldade de codificar e nao perder a intensidade das energias, em conseguir conciliar definicao estética com qualidade de interpretacao...
Três semanas depois, me vejo disposto a analisar o resultado. Ontem fiz a apresentacao para a banca, e acho hoje um bom dia pra escrever, antes que eu tenha a resposta oficial deles, que poderia influenciar minhas opinioes a partir do fato de eu ter ou nao passado (e que no final das contas é muito pouco importante para essa avaliacao em si.) A primeira coisa que me chama a atencao: eu consegui!!!!!!!!! Nao sem dor, mas ao final eu tinha uma partitura clara e definida, um discurso dramaturgico lógico e mesmo assim as corporeidades continuavam lá, presentes, ainda que mais instaveis do que antes, mas me parece claramente ser uma questao de repeticao e definicao. Nesse momento me parece claro que quanto mais um me dedicar à clareza dessa partitura, mas ela tendencialmente vai se descolar da minha necessidade de pensar enquanto executo e eu vou poder voltar o foco da minha atencao à clareza e inteireza das energias... Me parece ser um elemento fundamental para isso a fluência com a qual essas partituras foram criadas, nao fruto direto de uma decisao externa de movimentacao, mas de um lento desenvolvimento em improvisacao e repeticao, até que pequenos núcleos fossem formados e definidos... Também o fato da partitura completa estar codificada parece, por incrível que pareca, me ajudar. Ao contrário do que poderia supor, isso gera muitas vezes uma fluência que permite ao próprio corpo conduzir o movimento sem que eu tenha que tomar racionalmente as atitudes, permitindo que eu me concentre nas qualidades energéticas.
De resto, tenho tentado de alguma forma me manter conectado às coisas que vinha fazendo antes, ainda que em curtas improvisacoes em sala de ensaio, no pouco tempo em que tenho pra me dedicar a isso. Basicamente, trabalhei novamente em funcao de um roteiro comum, que pudesse dar conta de abranger tudo o que tinha feito até entao, com resultados animadores... Vejo porém um problema entre a energia da lua e a libertina, as vezes as duas energias se confundem de forma preocupante. Para evitar isso, voltei a trabalhar brevemente a lua com o bastao, e acho que pode ser um elemento interessante de quebra, já que é um elemento tao masculino dentro de um universo tao feminino... E isso me permitiria encontrar uma outra qualidade de movimento pra lua, que tem que ser mais dura e reta do que a libertina, que também possui a forca, mas é uma forca baseada na seducao, nao na violencia... Por fim, há ainda o trabalho com as imagens do Klimt, que tem me rendido frutos interessantes, especialmente nos últimos tempos com a projecao das imagens combinadas em algumas das energias (por exemplo, a eva e o beijo na donzela/romantica).