quarta-feira, 12 de março de 2008

Ensaio 12 de Marco

Toda energia tem um ponto de origem, uma fonte, mas nao pode se limitar a ela. Ela só comeca a existir como corpo consistente quando abstrai o lugar de onde nasceu e passa a existir corpórea e sensorialmente livre das barreiras de uma imagem, ou um texto, ou uma memória... Quando ela passa a existir em si, quando ela pode ser trabalhada, resgata, moldada de acordo com as nossas vontades.

Esse foi o grande foco do ensaio de hoje. Dancar cada energia de forma abstrata, esquecer por alguns instantes o Srta Else, a sensacao de exibicao do corpo, as pequenas relacoes já estabelecidas que me conduziam a acoes concretas e de certa forma pré-determinadas (como na semana passada, ainda que improvisadas, mas sobre uma abóboda coerente) e simplesmente dancar cada energia, compreendê-la nao como imagem, mas como sensacao, como desenho no espaco, como tonus do corpo, como qualidade independente. Esse passo é ao meu ver fundamental para que eu possa ir alé, para que surjam novas possibilidades, novos desafios, novas combinacoes...

A Romantica apareceu com um vigor até entao inexplorado, trabalhei com a presenca de um objeto abstrato (um pano preto), que me provocou novas e inusitadas qualidades de movimento, cada vez mais ela se caracterisa como uma energia rápida e flexível, acima de tudo leve... O desespero, por sua vez, tem o tonus como um elemento fundamental. Nele ainda me sinto muito preso a determinado tipo de postura, porém no final da improvisacao comecaram a aparecer momentos interessantes, especialmente com a exploracao de espasmos rápidos e repetidos dentro da qualidade de extrema tensao. A sedutora também ganhou muito em presenca, em desenvolvimento no espaco, é de alguma forma a energia da donzela, porém adulta, madura, segura do seu poder de seducao. A concubina... A desilusao ainda é para mim o estado mais engmático. Primeiro busquei o esvaziamento e foi muito dificil dancá-lo. Cada movimento que surgia parecia trazer já uma emocao em si, e o esvaziamento acaba perdido a cada vez que tentava me movimentar (um problema com o qual já me defrontei outras vezes em energias semelhantes). Por isso trouxe uma característica do texto que é ao meu ver fundamental para a criacao dessa personagem: a necessidade de ir adiante, mesmo com o vazio interior, ou uma aparencia de placidez recheada de sensacoes. Com essas duas idéias consegui ir mais adiante, mas mesmo assim nao foi uma improvisacao simples.

Uma outra questao parece me preocupar: a música comeca novamente a ter um papel importante dentro do desenvolvimento das improvisacoes, a escolha da música certa, ou do silêncio... Considerando minha opcao de montagem, na qual tudo aconteceria explicito em cena, nao haveria nenhum operador externop, tenho que pensar como lidar com isso. Se a música vai ter esse papel, e eu vou ter que encontrar uma solucao cenica para sua incursao (ou desistir dessa idéia e ter um operador externo), ou se eu preciso pensar a construcao separada de um uso musical, e nesse caso vou trabalhar muito com a ideia do silêncio...

Um comentário:

Jhow Carvalho disse...

Ensaiar as veze´s é uma coisa tão dificil mas outras e tão prazerosa é tão legal ter contato com o corpo e descobrir tudo que somos capzes.
O seu blog muito dez gostei...
Abraços...