Semana de buscar novos horizontes dentro de um universo já conhecido. Se na semana passada a questao que me inquietava era descobrir se as energias tinham uma vida própria, independente do texto que as tinha gerado, essa semana me proprus a testar os limites dessa independência, e até que ponto era possivel moldar uma dessas energias a partir de uma referência externa.
Primeiro trabalhei duas das energias, utilizando um trecho específico do texto como referência para a improvisacao. A idéia era contaminar a danca, agora independente, da energia da Else, e ver qual o resultado. Curiosamente, descobri que algumas energias existem muito fortemente independentes do texto, porque elas sao projecoes menos concretas da personagem como um todo, sendo imagens complexas de um detalhe de sua personalidade. Por exemplo, trabalhando a sedutora, percebi que ela é um aspecto da personalidade de else que aparece quando ela é colocada em pressao por Dorsday, e comeca a se questionar sobre atitudes que até entao simplesmente seguia por obrigacao social. Porém, essa energia corporificada vai muito além desse questionamento, é uma energia forte, adulta, segura de si, uma energia que em nenhum momento pode ser, independente, comparada com a personalidade de Else. Isso vence um problema, que era o medo de estar me atendo demais a um universo, e me leva à constatacao de que estou conseguindo meu maior objetivo, que era usar esse uzniverso como estímulo, nunca como limite...
Trechos de texto utilizados:
Libertina: "Ter vergonha de vocês? De alguém? Imagine. Olho mais uma vez no fundo dos seus olhos, linda Else. Como seus olhos sao grandes, quando vistos de perto. Queria que alguém me beijasse nos olhos, nos meus lábios vermelhos. Meu casacao nao cobre o pé. Verao que estou descalca. Nao importa, verao muito mais, linda. Mas nao sou obrigada a fazê-lo (...) Nao preciso absolutamente ir lá embaixo. Mas quero ir. Me agrada a idéia. Nao desejei isso durante toda a minha vida?" (pag. 79)
Romântica: "Se pudesse fazer uma mágica, queria ir para o lugar mais longe do mundo. Era um barco lindo, no mediterrâneo, mas nao sozinha. Com Paul, por exemplo. Ou poderia morar em uma vila na beira do mar... Nós nos deitaríamos nos degraus de mármore, que desceriam até a aágua, ele me prenderia fortemente em seus bracos, e me morderia os lábios, como Albert fez, há dois anos, junto ao piano, aquele cara insolente. Nao. Gostaria de estender-me sobre o mármore e esperar. E finalmente chegaria um, ou vários homens, e eu poderia escolher, e os demais rejeitados se precipitariam no mar, desesperados. Ou teriam que ser pacientes e esperar o dia seguinte. Isso é que seria uma vida deliciosa. Senao, pra que tenho esses ombros soberbos e lindas pernas esguias?" (pag. 60)
Depois disso, selecionei apenas a energia da Libertina e sete imagens do klimt. Trabalhei primeiramente com a mímesis das imagens, depois comecei a improvisar tentando combinar as imagens, os elkementos que eu já tinha e a energia da libertina. Ainda é um trabalho em processo, algumas imagens parecem ter encontrado um lugar dentro da improvisacao, outras parecem ainda bruscas, como se eu interrompesse a improvisacao pra conseguir chegar a imagem, sinto que o fluxo da energia se quebra com mais facilidade, por outro lado isso tem me levado a buscar novas possibilidades de movimento, novos detalhes dentro da energia, que tem compensado o trabalho. Nao sei se todas as imagens vao servir para o trabalho, nao sei até que ponto devo me manter apoiado nelas, ou deixar que se transformem na improvisacao. Mas tem sido um trabalho interessante, e pretendo explorá-lo até seus limites.
Por fim, ontem realizei uma improvisacao com o objetivo de recuperar as quatro energias e colocá-las dentro de uma estrutura dramaturgica simples. Para isso, me utilizei novamente da srta else, e fiz uma impro: a danca da romântica, leitura da carta da mae de else, durante essa transformacao da energia da romantica pra do desespero; danca do desespero, alternada com momentos de quebra da romantica; aparicao da energia da desilusao, com pequenas quebras da romântica ou desespero; desilusao - o caminho até o quarto de Dorsday; danca da sedutora/exibicionismo; desespero - esconder o corpo; desespero/feto - estupro; desilusao - volta pra casa. Penso em manter um pouco essa estrutura como primeira estrutura de trabalho, pra poder me aprofundar em seus momentos, porque sinto que só toquei a superficie de alguns momentos. Me parecem especialmente interessantes as passagens entre desespero e desilusao (especialmente a do final), a impro conjunta de desespero e romântica, além dos já mais conhecidos estupro e exibicionismo da sedutora.
quarta-feira, 26 de março de 2008
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