Qual é o corpo ideal pra criacao? Como trazer cada corpo pra um estado efervescente, criativo, ativo? Essa foi uma pergunta extremamente presente nessa semana. Os ensaios aconteceram em condicoes muito distintas, e como fazer o melhor em cada uma dessas condicoes foi um exercício que eu me propus, dentro da linha estabelecida de escutar mais o corpo e preparar menos o roteiro de trabalho. Na quarta eu tinha dormido pouco, mal, me senti cansado e com dores... Na sexta ensaiei a tarde, tinha dormido bem, estava com o corpo relativamente inteiro e pronto pro trabalho. Seria de se concluir automaticamente que o ensaio de sexta seria infinitamente superior ao de quarta? Ou um corpo cansado tenderia à exausatao e seria mais facilmente sensibilizável do que um corpo descansao (sempre me fiz essa pergunta, diga-se de passagem...)
Pois é, continuo sem respostas... O corpo descansado trabalhou com mais facilidade que o cansado, mas nao trouxe resultados necessariamente melhores. O corpo exausto por sua vez, criou grandes estados emocionais, mas o relaxamento e a atencao do corpo descansado produziram resultados igualmente sensíveis...
Essa semana retirei um conceito de Srta Else e trabalhei as quatro energias a partir dele. A idéia de exibicao do corpo foi o mote para uma improvisacao definida em quatro momentos: entrada num salaso cheio de pessoas, desnudamento, relacao sexual e reverberância no corpo. Claro que essas imagens eram interiores, que os movimentos nao eram necessariamente representativos, mas a presenca de uma pequena e básica dramaturgia possibilitou a conducao do trabalho e o aprofundamento em diferentes facetas de uma mesma energia. Foram muitas descobertas em duas horas, todas as energias aconteceram plenas, criativas, intensas. Aproveitando-me disso na sexta retomei cada energia de forma curta, individualmente, e depois trabalhei em cima do mesmo roteiro, mas com uma transformacao de energias: uma improvisacao comecava na libertina e terminava no desespero e a outra comecava na desilusao e terminava na romantica. Os mresultados também foram muito interessantes, porque uma energia, se bem utilizada, pode impulsionar o surgimento da outra de forma plena. De maneira geral, a primeira impro funcionou melhor que a segunda, até porque eu já estava próximo do final do ensaio e acabei correndo um pouco. Mas ficou claro que os paradoxos e as relacoes entre as quatro energias sao muito mais profundas e complexas do que eu tinha estabelecido a principio. o desespero, por exemplo, se conecta profundamente com a desilusao (como um centro impulsionador), m,as por outro lado apresenta contrastes interessantes com a romântica, porque uma vive o futuro e outra o passado.
O desespero, alias, ganhou contornos novos e mais profundos nessa semana. De alguma forma ele se descola da Else, mas eu nao vejo problemas obrigatoriamente nisso. Na quarta, a ideia da relacao sexual e o desespero conjuntamente trouxeram a volta de uma energia que hibernava há uns quatro anos, que eu tinha denominado de estupro. Nessa conexao, foi inevitável ver o ato sexual como algo repugnente, doloroso, contra a propria vontade. Na sexta, talvez influenciado por uma figura de Klimt que tinha visto por acaso pouco antes do ensaio (que anexo aqui) durante uma impro livre levei a mao à barriga, e me veio imediatamente a imagem de uma gravidez indesejada. Isso da mais uma nova perspectiva pra olhar essa energia, ela cada vez mais perde a imagem da menina oprimida por padroes sociais, e da uma dimensao mais profunda e grotesca pra essa opressao. Isso me agrada. Só como curiosidade, a obra de Klimt se chama A Esperanca...
sexta-feira, 7 de março de 2008
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