terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Semanas de febre e ócio

Duas semanas sem entrar em sala de ensaio.
Depois de um mês de pausa e apenas um ensaio relativamente conflituoso nada poderia ser pior.
Mas tive que aceitar o grito do meu corpo depois do treino, os 39 graus de febre, a dificuldade de conseguir sala e as crises existenciais como partes desse novo processo que estou comecando.
Amanha volto a trabalhar. Estou ansioso, mas ainda é confuso pra mim... Nao sei exatamente o que vou fazer em sala de ensaio. Aproveitei a semana pra reler o texto, refletir sobre ele, pensar novas estratégias de trabalho. Achei que nao fazia sentido abandonar o trabalho que vinha fazendo pra investir numa criacao de personagem, algo que nunca fiz, que nao sei como fazer, e que nao sei se consigo descobrir sozinho. Por isso decidi encontrar um outro caminho: procurar fragmentos claros de Else, e a partir deles buscar energias puras, julgando que a uniao dessas energias vai de alguma forma configurar uma Else pessoal, nao uma personagem do seculo XIX, e sim um reflexo do que ela seria em mim, no meu corpo - o que me parece um desenvolvimento mais lógico do que eu vinha fazendo ate aqui...
Um elemento que parece ser fundamental dentro dessa estratégia, e que dialoga diretamente com a maneira como eu penso e desenvolvo o meu trabalho, é a construcao de paradoxos. Dois me parecem essencias: um que eu denominei de ELSE ADOLESCENTE, que consttitui basicamente um olhar romantico sobre a existencia, um olhar esperancoso, basedao na ilusao de que alguém vai chegar a resolver os problemas pra ela contra uma ELSE ADULTA, que olha o mundo de forma objetiva e muitas vezes cínica, e sabe que ninguém vai salvá-la, sabe as consequencias dos seus atos, como um momento de tomada de consiencia dentro desse fluxo romantizado. Outro paradoxo claro é entre uma ELSE PUDICA, baseada na vergonha, nos valores sociais, na aparencia e na consequencia dos seus atos na maneira como o mundo olha pra ela contra uma ELSE LIBERTINA, que as vezes parece se divertir com o desenvolvimento da situacao, que gosta e quer ser desejada, que nao se importa, por momentos, com o olhar do mundo, mas apenas com seu próprio prazer. Por fim, há uma última else que me parece importante pra um primeiro desenvolvimento, que eu chamei de ELSE MORTA, que aparece nos momentos em que ela apresenta uma certa nostalgia pela morte, que ela diz que prefere morrer a ficar velha, na maneira como ela lida com o Veronal, e como ela fala com absoluta calma sobre a perspectiva de se matar. Poderia ainda se contrapor a ela uma ELSE VIVA, que aparece somente nos últimos momentos, quando ela já está a beira da morte, e que quer viver, que quer um pouco mais de tempo...
Montando, encontrando seis energias relacionadas a essas ELSES me parece ser possível estabelecer a personalidade multifacetada e compor uma personagem, sem abandonar as coisas nas quais eu acredito e ao mesmo temnpo dando conta da densidade do material literario.

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