sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Ensaios 13 e 15 de fevereiro

Voltar à velha disciplina. Reestabelecer as rotinas de trabalho. Definir a cada ensaio claramente objetivos a serem dominados, coisas a serem experimentadas. Nao esperar, nao depender de um estímulo externo que nao existe. Ter clareza sem perder a liberdade. Lembrar que mais importante do que o que se cria é porque se cria, que um bom conteudo independe da forma na qual ele é apresentado.
Essa foi uma boa semana de ensaios. As definicoes, as leituras e análises das últimas semanas surtiram um enorme efeito dentro do trabalho. A improvisacao desfocada de três semanas atrás parece hoje um passado distante. Agora eu já sei aonde estou indo e, ainda que o caminho pareca longo, é apenas uma questao de tempo até que eu posso trilhá-lo. Volto do ensaio otimista. Mexido. Transformado. Eu posso me envolver emocionalmente de forma profunda, mesmo sozinho em sala de trabalho. Houveram muitos momentos prazeirosos, com aquele frescor da primeira improvisacao, e também momentos de clareza dramaturgica, de desenvolvimento interno, de transformacao.
Para o trabalho dessa semana esolhi um dos pares paradoxais que determinei para Else, para me debrucar mais profundamente: A Adolescente e a Adulta. Na quarta feira a adolescente ficou mais forte, numa derivacao clara da forma como eu me propus a trabalhar, mas também por uma clara conexao entre ela e a energia original da donzela. A leveza que marca a segunda continua sendo uma caracteristica dominante, ainda que o olhar seja muito mais fantasioso e nao haja a idéia de um foco concreto para seducao. Alias, concretude é uma palavra que naocabe em relacao à adolescente. Tudo nela é abstrato, é fantasia, é sonho. Já hoje a adulta tomou corpo, forma, sentimento. No meio da improvisacao me veio a imagem de uma marquesa francesa caminhando rumo a guilhotina, tentando se manter neutra, intocada, apesar do turbilhao de coisas acontecendo dentro dela. Passar disso pra idéia do que aconteceria se Else realmente tivesse aceitado a proposta de Dorsday foi um pulo. A imagem dela, decepcionada, amargurada com a perspectiva de futuro que lhe resta, entrando no quarto e tentanto se manter absolutamente fria. Nao há desespero aparente, nao há nenhuma sensacao nos movimentos ou no irradiar do corpo. A tentantiva é de se manter fria, distante, como se isso fosse protegê-la da realidade. Como acao, surgiu uma sequencia simples mas interessante: sentada na cadeira, levanta, caminha um pouco, tira a blusa, se mostra para Dorsday, um giro completo, assume uma posicao pretensamente sensual (mas com energia neutra) e para nesse posicao. Depois volta a andar, ainda neutra, pega o casaco, veste o casaco e mai saindo, e só aí comeca a transparecer um nervosismo, que eu imagino seria o desencadear da energia pudica... Ainda fiz uma improvisacao com as duas energias combinadas, que teve momentos interessantes, mas ainda me parece um pouco inconsistente. De qualquer forma, as duas energias "nasceram", o que me leva agora a pensar se devo investir mais tempo nelas, para torna-las mais claras e definidas, ou se deveria tracar todas as energias e depois no jogo deixar que elas se clarifiquem?

Nenhum comentário: