O periodo das férias no Brasil foi marcado por duas experiencias: um passo a frente (mostrar o trabalho pra algumas pessoas, colher opinioes) e um passo atrás (voltar a treinar livre, sem objetivo claro, sem preocupacao com resultados). Duas experiencias totalmente opostas, complementares, paralelas.
O treino comecou muito dificil. Eu me tornei uma pessoa mais racional, ou era a simples falta de hábito que me fazia questionar os comandos o tempo todo? Estou me tornando tao autonomo que tenho dificuldades em seguir os comandos de alguém quando eles nao sao exatamente o que eu espero? (teria sido isso que me incomodou também no Workshop da Yumiko?) Estava simplesmente cansado, com preguica, sem agilidade? Dificil saber, mas a verdade é que o primeiro dia foi um longo sofrimento, fizemos um trabalho baseado nos impulsos do corpo, e a partir de determinado momento tudo o que eu conseguia era ouvir meus impulsos quotidianos, minha vontade de ir pro chao e dormir... Depois, mais aquecido, funcionou melhor, consegui improvisar algumas coisas interessantes, montar uma pequena estrutura (apesar da pergunta pra que? nao abandonar minha pobre cabecinha), improvisar sobre ela. Se o primeiro dia foi de sofrimento, o segundo já foi um pesadelo absoluto. Sabe um daqueles dias em que nada parece funcionar? Pois é, foi assim. Nao sei se também senti falta de foco, se foi novamente o cansaco, agora misturado as dores do dia anterior, mas nada deu certo. Tudo falso, sem energia, sen vontade... Foi só na quinta que alguma coisa mudou. Talvez a perspectiva de mostrar o trabalho no fim do dia tenha me trazido energia (e foco), talvez a presenca da música tenha ajudado, talvez o simples fracasso do dia anterior tenha me criado uma necessidade de mergulhar profundamente, mas o trabalho da quinta foi muuuuuuuuuito mais prazeroso. Aquecemos bem, improvisei durante um longo tempo sem deixar o nivel de energia cair, mantendo uma qualidade extra quotidiana, me diverti, criei coisas interessantes. O curioso é que a presenca de uma segunda pessoa nao me estimulou da maneira como eu esperava. Achei que poderia ser um empurrao, uma ajuda, uma nova friccao, mas acabou se tornando quase como uma obrigacao, um compromisso... Foi estranho... Claro que o fato da gente nao treinar juntos há muito tempo, de nao termos um foco claro de trabalho, do tempo ser muito curto, de eu estar numa energia mutio de férias, etc. sao questoes que ajudaram nesse estranhamento, masfiquei curiosamente decepcionado...
Ja apresentar teve um efeito contrario. Apesar de todo o nervosismo que envolveu mostrar um trabalho que esta sendo germinado a tanto tempo sozinho, apesar da vergonha de enfrentar pessoas conhecidas, me senti muito consciente em tudo o que estava preciso, muito determinado, inteiro... Mesmo na segunda mostra, que foi feita quase um mês depois de entrar em férias (e teoricamente com um corpo totalmente fora de um fluxo de trabalho) me mostrou o quanto as energias e acoes estao entranhadas no meu corpo, retomar o trabalho foi estranhamente simples e prazeroso, leve, e mostrá-lo também, tive uma intensa sensacao de estar dividindo parte de mim, mas uma sensacao boa, leve, despreocupada... Os retornos também foram bem interessantes, consistentes, sinto que o trabalho tem um impacto, uma intensidade, uma qualidade em potencial. Ainda há muito, especialmente a se resolver, mas sinto que ele esta lá, que ele já comunica algo, que nao é um mero acumulado de coisas que só faz significado pra mim
Duas curiosidades: a primeira foi uma longa discussao sobre a minha presenca da cintura pra baixo - sempre imaginei minhas pernas como uma base muito sólida, e fui tomado por uma certa surpresa ao descobrir que talvez seja a parte mais inconsistente do meu corpo. Preciso prestar mais atencao a isso no trabalho (especialmente quando nao ha espaco para fraqueza). A segunda foi perceber que das três energias a da Lua é a mais "criticada" (nas duas mostrar isso foi levantado). Parece que de alguma forma o processo de codificacao, longe de me dar firmeza pra que eu possa explorar a energia profundamente, tem me deixado num limite perigoso entre realizar o que esta marcado e trabalhar com a qualidade do movimento. A pergunta que nao quer calar: devo abandonar o que está codificado ou insistir nisso tempo suficiente pra que se torne tao intrinseco no meu corpo que eu nao precise mais pensar para realizá-lo? (lembrando que, algum dia, terei que codificar algo, e nesse momento isso me parece o ponto mais perigoso do trabalho)
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
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