domingo, 2 de março de 2008

Ensaios 27 e 29 de fevereiro


Redescobrir velhas sensacoes em sala de ensaio.
Voltar a encontrar o corpo, a escutar o corpo, a entender o funcionamento do corpo.
Ficar mais atento a suas vontades, a seus fluxos, a seus caminhos.
Nao tentar entender
Nao tentar entender antes da hora...

Sobretudo, planejar o mínimo possível...

Depois do ensaio de dia 20, entrei em uma pequena crise sobre minhas rotinas de trabalho. Percebi repentinamente que estava me tornando excessivamente racional em minhas estruturas de trabalho, excessivamente previsível, excessivamente lógico. Que nao estava dando espaco pro meu corpo respirar, que estav tao certo das coisas que andava buscando e dos caminhos para conquistá-las que já tinha pontos de chegada definidos antes mesmo de entrar em sala de ensaio. Curiosa consequencia da minha germanizacao? Talvez...

Mas me coloquei como objetivo de longo prazo transformar essa postura, ser mais atento, ser mais livre. Comecei com pequenas coisas. Ter uma divisao clara entre momentos de ensaio e preparacao/pausa. Me preocupar menos com o tempo de desenvolvimento de cada exercício, e mais com o tempo geral do ensaio, deixar que cada exercício se prolongue pelo tempo que o corpo achar necessário. Deixar que as coisas se transformem quando quiserem se transformar, trazer novamente o ator como peca fundamental e central do trabalho. As vezes acho que trouxe a racionalidade pro trabalho como uma forma de lutar contra uma tendencia de facilitacao do trabalho, que o fato de eu colocar objetivos e divisoes muito concretas e lógicas pro trabalho me obrigaria a desenvolve-lo dentro de certos padroes de existencia, independentes da minha vontade... Mas nao é bem assim que acabou acontecendo...

Na prática a semana foi marcada pela primeira exploracao das novas energias, a libertina e a desesperada. Como sempre, a primeira improvisacao (a de quarta) foi muito intensa, especialmente dentro das novas condicoes de trabalho que me coloquei. Se a energia do desespero é muito simples em si, pela própria condicao física que exige, a libertina anda num tênue fio entre a seducao implícita e a sensualidade explícita, tenho ainda um pouco de medo do ridiculo de expor uma sensualidade extremada, e acho que essa é a grande chava da energia. A improvisacao conjunta de quarta foi muito interessante, as duas energias se alimentara uma da outra e foram se intensificando após a improvisacao de maneira muito intensa.

Na sexta resolvi trabalhar um pouco mais profundamente com cada energia em separado (incluindo as da semana anterior), pois também tenho receio de que as energias só existam em dupla, preciso ter domínio delas o suficiente para fazer o uso que eu quiser, nao posso ficar atrelado a necessidades de combinacao para que as energias acontecam. A primeira energia foi a libertina, e foi um pouco dificil, tentei combiná-la com o tigre do ken-po, mas nao funcionou bem, também usei uma música que nao ajudou em nada, mas mesmo assim a energia aconteceu, ainda que nao tao intensa. O grande momento, pra mim, foi a segunda energia, a romantica, que era a mais fraca individualmente (acabou se tornando uma sublimacao da desilusao apenas) e na sexta aconteceu com grande intensidade sozinha. As outras duas energias também se desenvolveram bem, intensas, sem maiores surpresas e, como é de se imaginar, existe uma conexao muito forte entre o desespero e a desilusao.

Pra deixar registrado, encontrei a primeira referencia visual do processo: Klimt (austríaco, como Schnitzler, viveu mais ou menos na mesma época, também tem uma grande influencia da questao da sexualidade, da sensualidade adolescente, do uso e exposicao do corpo, e dentro de um universo poético que me interessa muito). Descobri um painel muito interessante, chamado Beethovenfries, que mescla de forma muito interessante a morte e a seducao...


Nenhum comentário: